Projeto Geringonça do Sesc Rio trás artistas paraenses!

Na próxima quinta-feira (27), o SESC Tijuca, no Rio de Janeiro, apresenta a Amostra Grátis, evento integrante do Projeto Geringonça, que agrupa diferentes expressões artísticas e reúne públicos e realizadores da cidade em quatro semanas de atividades.

p4111192Nesta edição, os artistas paraenses invadem a cena. Marco André e Trio Manari (foto) se apresentam como atração especial na abertura da noite. O músico paraense vive no Rio há mais de 10 anos e vem consolidando um trabalho inovador junto ao trio de percussionistas e outros músicos de Belém; o Beat Iú, como se chama o show e o CD do cantor, é um projeto que mistura ritmos do Pará com recursos eletrônicos, no início deste ano, Marco André gravou DVD sob direção de Roberto Talma. O Trio Manari, formado por Nazaco Gomes, Marcio Jardim e Kleber Benigno, tem viajado para dentro e fora do Brasil participando de festivais e shows de grandes artistas. No ano passado, o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos dividiu o palco do Theatro da Paz, em Belém, com o Trio num grande espetáculo musical.

foto_n-gatos-do-trovao1Mas a noite continua com mais duas atrações de Belém, o grupo Novos Gatos do Trovão (foto) apresenta em sua formação músicos de diferentes localidades do país, além dos violonistas Neto Rocha, de Guareí, São Paulo, e Diogo Fujimura, de Florianópolis, e do percussionista Jonas Man, do Rio de Janeiro, os paraenses Júlio Alencar (voz e violão) e Marcello Gabbay (contrabaixo) trazem pro grupo referências da terra na pegada percussiva dos arranjos. Sob forte influência dos mineiros do Clube da Esquina, o som dos Novos Gatos do Trovão agrega um certo paraensismo ao deixar de lado a bateria e as guitarras elétricas em prol da sonoridade crua do pau-e-corda. Fechando o ciclo amazônida, a atriz Michele Campos apresenta performance durante o show dos Novos Gatos; há dois anos no Rio de Janeiro, Michele está cursando Mestrado em Teatro na Unirio, onde desenvolve pesquisa sobre a cena paraense nas décadas de 1980 e 90.

Invasão paraense
Segundo dados do IBGE, vivem hoje no Rio cerca de 50 mil paraenses. A migração de artistas de Belém para a capital fluminense foi alvo de pesquisa acadêmica realizada pelo músico Marcello Gabbay, doutorando em Comunicação e Cultura da UFRJ. O trabalho, publicado no Encontro de Estudos sobre Cultura da Universidade Federal da Bahia em maio deste ano, aponta o Rio como uma rota comum a vários atores, músicos e artistas visuais que deixam o Pará em busca de um mercado mais sólido. Desde o século XIX, importantes escritores, como José Veríssimo, mudaram para o Rio em busca de contatos, nos anos 1940 foi a vez do escritor Dalcídio Jurandir tomar o navio rumo ao porto da Praça XV, centro do Rio de Janeiro, ele não voltou a morar no Pará, mas consagrou-se com um dos maiores romancistas da Amazônia. Mas foi a partir da década de 1970, após a consolidação da indústria televisiva no Rio, que uma grande quantidade de artistas passou a arriscar a mudança de ares. São várias as canções que relatam este fenômeno, como “Peguei um Ita no Norte” do baiano Dorival Caymmi, de 1945, ou o samba-enredo do Salgueiro de 1993, com o mesmo título; ainda em 1993, Nilson Chaves cantava “O bosque Rodrigues não é a Lagoa do Rio , mas nele a vida habita, engravida no cio”, em “Não Peguei o Ita”. Em geral, estes artistas mantêm em seu trabalho a referência à cultura amazônica, porém, a ilusão de uma vida farta na cidade maravilhosa acaba quase sempre esbarrando nas dificuldades de acesso às políticas culturais e aos espaços de apresentação artística. Em uma cidade muito mais extensa e populosa, a produção e divulgação de espetáculos teatrais, shows, discos, livros e exposições é muito mais complicada e onerosa. Além disso, a presença forte da indústria de celebridades tende a institucionalizar o trabalho do artista. De volta a Belém, depois de viver por décadas no Rio, Nilson Chaves poderia cantar mais uma vez: “Este aqui não é o Rio de Janeiro, mas é o Rio Guamá, meu bem”.

Serviço: Amostra Grátis – Projeto Geringonça, SESC Tijuca, R. Barão de Mesquita, 539, Rio de Janeiro. quinta-feira, 27 de novembro de 2008, a partir das 17 horas. Entrada franca. Contatos: (21) 3238-2076, tijuca.geringonca@sescrio.org.br ou em projetogeringonca.blogspot.com.